domingo, março 9

Barcelona desiste... de si próprio

A febre de estatísticas que irá assolar o rescaldo do Valladolid-Barça poderá ser resumida com um 'bitaite': nunca o Barcelona errou tantos passes. Uma assumpção obviamente exagerada que, no entanto, é premeditadamente utilizada para se dar noção de que no José Zorrilla 'aquele' Barcelona que todos conhecem simplesmente não apareceu. E por mais que se arranjem as habituais desculpas externas para uma derrota que poderá deixar, à 27.ª jornada (11 jornadas para o fim), os catalães a quatro pontos do Real Madrid, as causas terão que ser encontradas internamente. Isto porque o modelo que ganhou a hegemonia do futebol europeu, e mundial, não se revê na falta de controlo do jogo que a equipa de 'Tata' Martino revelou nos primeiros 30 minutos em Valladolid. 


Já por aqui se disse e, desta feita, se voltará a dizer. Ainda está para nascer um texto sobre qualquer Barcelona que não tenha Pep Guardiola envolvido. Assim como ainda está para nascer alguma entrevista feita a jogadores do Barcelona em que não haja, pelo menos uma, resposta com a sombra do Pep Team. Diz Xavi, por exemplo, que ''não vale a pena comparar (as duas equipas - a de Pep e a de 'Tata'), porque se ficaria sempre a perder''. Mas, se assim é (e é, de facto!), resta tentar perceber o que fazia com que os tempos áureos do Pep Team fossem tão avassaladores? A resposta irá ser vendida em qualquer revista, jornal, site ou até blog sobre futebol, mas por aqui a ideia será sempre caracterizada com a palavra 'transcendência'. Essa, criou sempre soluções para que 'desastres' como o deste sábado não assolassem um futebol que encantou o Mundo.

Para se ter noção, as saídas de bola 'desse' Barça raramente eram iguais. Assim como as movimentações do meio-campo, do avançado (ou falso avançado) e dos extremos, também eram sujeitas, jogo a jogo, a rectificações. Isto porque um sistema fechado - sem evolução, sem transcendência, sem ideia nova - não tem outro caminho senão o eclipse. Demore o que demorar, sem ideias superiores, qualquer plano acabará por cair. E sublinhe-se superiores, porque 'Tata' Martino até tem ideias... diferentes. Resta dizer que a nova saída de bola de 'Tata' é... chutar para frente. Assim como a procura dos laterais pelos avançados é também feita, várias vezes, a chutão. Ou seja, o que fez do Barcelona um conceito, está lentamente a desaparecer desde a saída do seu mentor. Já com Tito se havia perdido o controle inequívoco das partidas (ou pelo menos a real tentativa dele), para com Gerardo Martino se estar a assistir ao abandono de ideias superiores em detrimento da banalidade.

E não falamos sequer de jogo-directo ou de verticalidade, mas sim de despejos sem intenção. Se pressionado este Barcelona desiste do que o fez grande. Sim, como Piqué disse, também em entrevista', ''não faz mal chutar para a frente, se assim tiver que ser''. E quando não tem que ser, Gerard? É que o Barcelona escolhe agora a 'porta larga' para sair dos apertos. E com isso, tal como na primeira meia-hora desta partida, passa o tempo com tonturas defensivas à procura de uma bola que é jogada no seu meio-campo por equipas para as quais um triunfo contra o todo-poderoso sabe pela vida. Por isso, 'Vírus Fifa', relvados irregulares e adversários corajosos (desta vez nem houve rotações no 'onze'), só deviam fazer o Barcelona transcender-se, bater o pé e controlar, mais ainda, o jogo. Ao invés, com a bola a passar por cima, e ao lado, dos 'pequenitos', o Barça sujeita-se a perder jogos com golos de raiva como o de Fausto Rossi. O tal que deixa o Barcelona em terceiro, atrás do 'Atleti' e do Real Madrid, mas, pior, à procura da salvação. Que é como quem diz 'à procura de si próprio'.

Valladolid-Barcelona, 1-0 (Fausto Rossi 17')

Foto: Dennis Doyle/Getty Images

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