sábado, julho 26

O mito do “Milagre Financeiro” do Benfica - Parte I

Já há muito tempo que estou para fazer um post sobre as finanças do Benfica. Agora que tenho mais disponibilidade e tendo em conta aquilo que tem sido a pré-época do Benfica (vender, vender, vender e vender), penso que é a altura ideal. Como existe muita informação para partilhar e vários comentários a fazer, irei escrever vários posts.
 
Utilizei como base os Relatórios e Contas de 2008/09 a 2012/13, portanto 5 anos fiscais. É importante referir que não tenho nenhuma inside information.

Há uns anos quando o Benfica começou a aumentar drasticamente o investimento em jogadores (terá sido em 2008 ou 2009), em conversa com o J., não me mostrei muito preocupado, pois no meu optimismo/ingenuidade pensei que na Direcção do Benfica estivessem pessoas responsáveis, que sabem que uma empresa/organização não pode manter durante muito tempo uma política de investimento contínuo que não seja compatível com as Receitas geradas. Estava enganado, pois parece que a Direcção do Benfica não se preocupa tanto com a saúde financeira do Benfica, preferindo que se acumulem prejuízos de ano para ano. 

Começo por analisar os Proveitos Operacionais (excluindo-se portanto os Resultados com transacções de jogadores e os Resultados Financeiros):

Proveitos Operacionais                      2008/09     2009/10     2010/11     2011/12      2012/13
Publicidade e patrocínios 11 542 14 499 14 207 17 094 16 920
Transmissões televisivas 10 073 8 844 8 410 8 463 8 175
Quotizações 8 228 8 982 9 508 8 365 7 163
Receitas de Bilheteira 5 974 12 370 6 711 9 420 8 462
Merchandising 2 767 2 908 3 116 3 194 3 365
Cativos 2 563 2 823 3 789 2 977 2 316
Seat Rights e Bilhetes de época 2 160 4 091 3 786 3 525
Corporate 3 720 8 513 7 516 8 197
Prémios Competições Europeias 305 2 903 13 966 22 379 21 708
Rendas de Espaço 0 1 551 3 091 2 857 2 596
Cachets 2 043 2 225 330 0
Receitas outras Competições 726 2 019 1 098 0
Cedência Temporária de Atletas 1 185 2 365
Outros                                   5 428 2 853 3 247 2 455 3 514
Total Proveitos Operacionais 46 880 66 382 82 893 91 119 88 306


Começando pelos Proveitos Operacionais, é notória a evolução global positiva que teve esta Rubrica nos últimos 5 anos. Podemos verificar que o aumento é constante com a excepção do último ano, em que houve um “ligeiro” decréscimo de aproximadamente 3 Milhões. Mesmo assim, se comparamos com a época 2008/09 é um aumento de 88% Este crescimento está, no entanto, um pouco “inflacionado”, pois as receitas da Benfica Estádio apenas consolidam na SAD a partir de meio de 2009/10. Excluindo as receitas da Benfica Estádio (essencialmente “Seat Rights e Bilhetes de Época, Corporate e Rendas de Espaço), o aumento seria de aproximadamente 58%.

Passamos agora a analisar cada uma das rubricas:


Publicidade e Patrocínios

Verifica-se um aumento de 47% em relação ao primeiro ano de análise. Parece estar a ser feito um bom trabalho neste item. Segundo os R&C a origem deste aumento deve-se a prémios e melhorias contratuais relativo a Equipamento (aumento de aproximadamente 2 Milhões em 2009/10) e a melhorias contratuais com a Central Cervejas (2011/2012, não está especificado o valor). É a principal fonte de rendimento do Benfica (excluindo transferências de jogadores), com 74 Milhões de Euros acumulados em 5 anos.

Prémios Competições Europeias
A principal fonte de crescimento de receita vem desta rubrica e é fácil de explicar: no primeiro ano em análise valor foi pouco mais que zero. A época de Quique Flores a nível europeu foi um desastre e por isso não houve prémios de monta. Para além disso, os direitos televisivos dos jogos da fase de grupos eram negociados à parte e por isso as correspondentes receitas incluídas noutra rubrica (Transmissões Televisivas). Nos últimos 2 anos conseguiu-se manter a fasquia elevada, com mais de 20 Milhões em ambos os anos e, apesar de não existir ainda o R&C de 2013/2014, deduzo que se tenha superado a fasquia dos 20 Milhões outra vez. Estes valores têm significado, nos últimos 2 anos, 25% das Receitas Operacionais. No entanto este é um item bastante volátil e basta uma má época (como já aconteceu) para se reduzir drasticamente os proveitos totais da SAD. O total desta rubrica em 5 anos (4 na prática) é de 62 Milhões de Euros.

Transmissões Televisivas
Com a excepção do primeiro ano em que, como referido anteriormente, os direitos televisivos dos jogos da fase de grupo da Liga Europa eram negociados pelo Benfica e por isso as receitas ultrapassaram a barreira dos 10 milhões, nos outros anos ficou-se sempre na casa dos 8 Milhões. Estou curioso por saber a evolução destas Receitas agora que a Benfica TV é paga. Não espero nada inferior a 20 Milhões anuais, passando assim a ser a principal fonte de Receita da SAD (mais uma vez excluindo transferências). O valor global dos últimos 5 anos foi de 44 Milhões de Euros.

Receitas de Bilheteira
Neste item é visível o quanto pode afectar o rendimento desportivo na adesão aos jogos por parte dos adeptos. A época com maior receita (de longe) é a de 2009/10, ano em que fomos campeões. As épocas em que ficamos longe do título são também os 2 piores anos (metade da receita em relação ao melhor ano). Total acumulado: 43 Milhões de Euros.

Quotizações
Nos 3 primeiros anos em estudo, as receitas das quotizações estavam a subir ligeiramente. No entanto nos últimos 2 a queda foi abrupta chegando-se a 2012/2013 com -12,4% em relação ao primeiro ano. As justificações prende-se com a alteração das taxas de IVA (o principal motivo), mas também com a diminuição das cobranças aos sócios. O que me faz imaginar que o número de sócios com a sua situação regularizada difere bastante do número de sócios que periodicamente é anunciado (já que não houve diminuição do preço das quotas). Melhor trabalho terá de ser feito na retenção de sócios pagantes. Valor total do período: 42 Milhões de Euros.

Corporate
Este item refere-se às receitas com a venda de Camarotes e executive seats. É um valor bastante significativo. Nos 3 anos completos (em 2009/2010 apenas a partir de metade da época passou a ser integrado na Benfica SAD) o valor andou sempre muito perto dos 8 milhões, somando 28 Milhões de Euros, durante o período em análise.

Merchandising
Relativamente a esta rubrica, existe um pequeno aumento anual, que resulta em 20% de aumento quando se compara o primeiro com o último ano. É de estranhar que não exista nenhuma correlação entre época desportiva e as receitas de Merchandising. 15 Milhões de Euros acumulados.

Cativos, Seat Rights e Bilhetes de época
Nestes item é notória a relação da receita com os resultados desportivos da época precedente. No entanto no resultado final a variação destas rubricas têm um valor bastante residual, já que mesmo no melhor ano apenas correspondeu a 9,5% das receitas, por isso uma subida ou queda de receita terá pouco impacto. O que me faz pensar que talvez se pudesse baixar os preços de modo a ter o Estádio mais cheio, eventualmente sem quebra de receita, mas com vantagens a nível desportivo, o que permitiria também aumentar o preço dos bilhetes para os lugares que sobrassem. Total global: 28 Milhões de Euros.

Cachets, Receita de outras competições, Cedência temporária de Atletas, Outros
Nestas rubricas os valores são residuais, por isso não merecem particular análise, com excepção da rubrica “Outros”, que no entanto não tem detalhe, por isso não sei a que se refere.

Pontos Positivos
- Aumento considerável das Receitas Operacionais entre a primeira e a última época (88%), apenas com um ligeiro decréscimo na última (3,1%).

- Aumento considerável (e sustentável) das receitas entre a primeira e a última época, na rubrica Publicidade e Patrocínios (46,6%).

- Aumento enorme dos Prémios das Competições Europeias: de 305 mil euros para valores acima dos 20 milhões nas duas últimas épocas.

- Margem de melhora para as receitas com as Transmissões Televisivas, com o fim do contrato em vigor em 2012/13.

Pontos Negativos
- Receitas com as Quotizações a descer e que apenas parcialmente é explicado pela mudança das taxas de IVA, o que é estranho visto que o número de sócios aumenta todos os anos, segundo a informação que vem a público.

- Excessiva dependência dos Prémios das Competições Europeias nos resultados Operacionais (aproximadamente 25% nos últimos 2 anos). Aliás no meu ponto de vista este tipo de receita deveria ser considerado extraordinário, pois nunca se sabe o que irá acontecer durante o ano e as diferenças entre um ano e outro podem ser enormes. Deste modo os Resultados Operacionais seriam menos maquiados, o que ajudaria a uma melhor gestão de recursos.

- Receitas de Bilheteira: estão demasiado dependentes do sucesso desportivo. O departamento de Marketing não está a fazer um bom trabalho neste aspecto, apesar de algumas medidas que tem adoptado. Tem de se conquistar mais adeptos de Estádio.

20 comentários:

J. disse...

Bufff, o post que quis sempre fazer em relação ao Sporting.

Obviamente que as receitas, sem vendas de jogadores, aumentaram exponencialmente e aqui tenho que ir um pouco contra a corrente e reconhecer o bom trabalho feito pela SAD do Benfica.

Acho que as quotizações não podem também ser consideradas não tendo em conta a situação de crise no nosso país.

As receitas de bilheteiras e competições inerentes estão sempre relacionadas com os sucessos desportivos. E aqui a bola ou entra, ou não entra.

Será interessante ver a comparação entre as receitas e os custos, não considerando os proveitos e ganhos extraordinários (vendas de jogadores) para saber a verdadeira dimensão do buraco que poderá existir no Benfica.

Anónimo disse...

Iniesta, antes: dei uns toques no texto (parágrafos e merdas) porque passava-se alguma coisa, e só dava para ver o teu post, pois todos os outros estavam desaparecidos. Obviamente que não mexi em nada do texto propriamente dito.

Excelente post. Deduzo que deu trabalho mas valeu a pena porque desta forma podemos consultar facilmente os resultados (e com massa crítica).

Saltando para os teus pontos negativos e positivos:

as receita operacionais registam de facto um assinável aumento o que, no cômputo geral, nos diz que, globalmente, o trabalho feito é excelente.

A Marca Benfica tem sido constantemente valorizada, com um grande potencial de crescimento.

Em relação às transmissões televisivas, foi-me dito que o encaixe no primeiro ano da BTV seria de 30M, independentemente do número de assinaturas. Só a partir desse primeiro ano o pagamento começaria a ser feito consoante uma percentagem das subscrições. Ou seja, se assim for, as receita aumentarão não direi brutalmente, mas bastante. Neste aspecto, há vários caminhos que poderão fazer crescer ainda mais esse bolo.

As Quotas: aquando do aumento do IVA alertei precisamente para esse fenómeno. Obviamente que esse factor foi decisivo no decréscimo dos pagamentos. Como dizes e bem, não explicará tudo.

O número de sócios acredito que tenha momentos mais fortes nomeadamente quando a equipa de futebol ganha mais ou, por exemplo, quando existem campanhas de angariação.

Também os pagamentos estão relacionados com esses factores.

Ou seja, houve uma subida nos valores durante três anos que naturalmente acabou por não ter correspondência no aumento de sócios. Não sei se me expliquei bem.

Prémios de CE: completamente de acordo. Deveriam estar de fora destas contas. Mas é a estratégia que tem sido seguida sem grandes segredos. É assim no FCP, também.

Contudo, a bem de uma gestão mais responsável, é imprudente considerarmos benéfica tanta dependência da bola na barra ou do erro do árbitro.

Receitas de bilheteira: estarão sempre ligadas ao sucesso momentâneo da equipa. A menos que exista uma política e uma estratégia realmente interessada no adepto/sócio.

Não sei se é assim tão linear concluir-se que o DM está a fazer um mau trabalho.

Existe sempre a contingência de sermos um país MUITO pobre onde sai muito caro acompanhar um clube.

Claro que há espaço para maior imaginação. E aí concordo contigo.

Manuel disse...

Fizeste o mais fácil que é a descrição do que está nos R&C, colocá-lo num tabela e para isso basta lê-los e reproduzir o que lá está. Mas isso pouco diz, na minha opinião. Não mostra qualquer relação entre os números.
O mais interessante seria continuar e fazer A análise final e completa dos números. Mas aí é que a porca torce o rabo porque nem toda a gente consegue ou sabe fazer.

Como se mede a qualidade da gestão?

Para mim o passivo não tem grande importância. Importante é saber o volume anual de juros mas ainda mais importante, qual a parte procentual dos juros em relação aos proveitos anuais e qual foi essa relação nos últimos 5 anos?
O mesmo para os custos de pessoal. Importante para o fair play financeiro.
Etc., etc.


J. disse...

Manuel, pelo que pude entender, esta é só uma primeira análise das contas do Benfica, mais especificamente da rubrica Proveito e Ganhos operacionais.
Acho que se seguirá a este post, uma análise sobre os custos e os respectios Resultados Liquidos o que dará para fazer uma análise mais completa da gestão de LFV no Benfica.

A Holanda, por exemplo, é um país mto mais rico que Portugal, mas onde se gasta muito menos dinheiro com o futebol.
Não é por aí...

Unknown disse...

Primeira questão - problema metodológico - não faz sentido comparar realidades incomparáveis, uma coisa dão os dados da sad a nível individual, outra são os dados a nível consolidado, outra ainda são os dados consolidados a meio do exercício - podes colocar essa nota, mas não é isso que as pessoas vão ver, menos ainda quando se comparam valores iniciais com finais e se fala em 88% de crescimento. E não, não são 58% sem essa junção, são 55.5%, pois há parte da publicidade que é relacionada com a benfica estádio.

Unknown disse...

Publicidade e patrocínios - houve efectivamente um aumento de receitas, mas novamente há a questão das comparações que não são abordadas.

Parte dos naming rights das bancadas estavam incluídos na Benfica estádio. Com a renovação dos contratos, esses valores saíram da Benfica estádio para a Benfica SAD tornando portanto incomparáveis os valores.

Porém há dados que são comparáveis e reflectem o trabalho efectuado ao nível dos patrocínios técnicos de equipamentos e de camisolas - Adidas + PT + Centralcer:

Em 2007/08 - 5.542
Em 2008/09 - 6.997
Em 2009/10 - 10.143
Em 2010/11 - 9.907
Em 2011/12 - 12.305
Em 2012/13 - 12.565

Mesmo assim, estes valores devem ter em conta que os contratos incluem cláusulas de desempenho da equipa de futebol que condicionam os valores recebidos.

Para 2013/14 é provável um aumento devido ao triplete e à presença na final da Liga Europa. A renovação com a Adidas e a entrada em vigor do contrato na época de 2014/15 aumentará significativamente estes valores.

Unknown disse...

Transmissões televisivas - é um dado que é comparável no período de análise. O contrato com a PPTV era de 7,5 milhões de euros, as variações a este valor correspondem aos jogos particulares e acima de tudo aos jogos que disputamos da Liga Europa, pois não existe centralização de direitos de transmissão desta competição.

Para 2013/14 os dados não serão comparáveis. Não são comparáveis pois existiu uma alteração do modelo, deixamos de receber um valor pela venda dos direitos de transmissão e passamos a explorar, ou seja, mais do que analisar as receitas, devem-se analisar os resultados (receitas-custos).

Mas devemos ter em consideração que já não é só o produto Benfica que está a ser explorado pela BTV.

A partir do momento que se transmite a Liga Inglesa, parte das receitas e das despesas estão inerentes a este negócio, a Liga inglesa. Sempre que existirem outros produtos - UFC, Farense, MLS, Liga Grega, etc. etc., torna-se mais complicado fazer a destrinça entre o que é relativo ao Benfica e o que é relativo aos outros conteúdos da BTV. Em especial porque não há acesso aos custos destes conteúdos e menos anda se conseguem perceber quem acede ao canal pelos conteúdos que não a transmissão de jogos do Benfica (por exemplo adeptos de Sporting e Porto).

Unknown disse...

Receitas de bilheteira - a conclusão é perfeitamente enviezada. Há a questão que não é de somenos da crise económica onde se atingiram taxas históricas de desemprego e as pessoas sofreram medidas restritivas nos rendimentos com o aumento de impostos e diminuição de salários. A questão do afastamento ou não dos adeptos, deve ser medida pelas assistências, mais do que pelas receitas.

A verdade é que uma boa gestão do estádio, originaria receitas baixas ao nível da bilheteira, visto que as mesmas e
são apresentadas separadamente dos cativos (red pass), seat rights (fundadores) e bilhetes de época (fundadores).

As fracas assistências no início e meio da época, em parte por causa da crise, em parte porque o trabalho ao nível dos red pass foi muito mal feito - ao contrário dos bilhetes, o Benfica não internalizou o aumento do IVA - causaram uma generalizada baixa de preços dos bilhetes ao longo das últimas duas épocas.

Mas não só, analisando as assistências, verifica-se que no campeonato nacional obteve-se uma média verdadeiramente anormal, mais de 50.000 espectadores, se tivermos em conta aquilo que é o histórico das assistências no Estádio da Luz. Além disso, o Benfica disputou 2 jogos de acesso à Liga dos Campeões, que normalmente não disputa e, na Liga Europa foi até aos 1/4 de final, tendo uma grande receita com o Liverpool. Ou seja, a época de 2009/10 foi uma época anormal em termos de receita e isso aconteceu porque por um lado houve um lado desportivo que o potenciou - ser campeão ao fim de 5 anos, 5 jogos da LC + 3 jogos da LE, e por outro ainda não se sentiam os efeitos da crise.

Unknown disse...

Quotizações - a entrada em vigor da taxa de iva a 23%, implicaria uma redução de 13,8% se os valores se mantivessem constantes. Essa entrada em vigor aconteceu a 1 de Janeiro de 2012, pelo que no exercício de 2011/12 esse acontecimento teve impacto em 1/2 semestre e em 2012/13 teve impacto na totalidade do exercício. Se a quebra é de 12,4%, então isso implica que efectivamente houve um aumento das quotas cobradas.

Para 2013/14 com a mudança de 75 para 25% na repartição dos valores da quotização para a SAD, é previsível uma queda acentuada.

De referir que as receitas da quotização são contabilizadas com o pagamento e não com o vencimento como acontece com todas as outras facturas. Isto quer dizer que em momentos de maior dificuldade, mesmo que os sócios não regularizem atempadamente os seus valores e portanto não sendo contabilizados nos valores, não quer dizer que não sejam sócios, pois a qualquer momento podem regularizar a situação.

Unknown disse...

A análise feita aos cativos reflecte que não compreendes a importância desta receita face à gestão de assistências.

Na Inglaterra ou Alemanha tens assistências médias superiores a 90% da capacidade dos estádios. Grandes clubes como barcelona, real, ou ajax, têm assistÊncias médias superiores a 80-85% da capacidade dos estádios. Isto acontece devido à venda de bilhetes de época (na terminologia do Benfica - cativos (Red Pass)). A assistência média do estádio do Benfica no campeonato ronda os 42.000 espectadores, cerca de 65% da capacidade e isso só é alcançado essencialmente à base de 4 ou 5 jogos durante a época.

Na verdade uma boa gestão procuraria ter 50.000 lugares previamente vendidos para que apenas o remanescente fosse influenciado pelo desempenho desportivo. Aliás, ao ter poucos lugares disponíveis para venda, poderia o Benfica praticar preços mais consentâneos com o que os grandes clubes europeus praticam.

Os seat rights correspondem à divisão anual do investimento feito na compra dos títulos fundadores pelo que pouco variam.

Os bilhetes de época, correspondem ao valor anual que os detentores desses lugares têm que pagar.

Unknown disse...

Corporate e merchandising - reflectem também o trabalho feito na área comercial do Benfica.

O corporate tem sofrido uma erosão devido à crise, sendo expectável que os valores venham a subir com a recuperação económica, ou pelo menos com o fim da fase mais crítica da crise.

Merchandising - Estes valores dependem em grande parte do acordo com a Adidas. A expansão do retalho da marca Benfica, seja através de quiosques em centros comerciais, seja através dos pontos de venda nas casas do Benfica, contribuirá para o crescimento dessas receitas.

Portanto é natural que haja um crescimento crescente, independentemente do desempenho desportivo. Mais ainda, quando a diversificação dos produtos com a Mmrca Benfica é cada vez maior.

Para o exercício de 2013/14 houve uma mudança no contrato com a Adidas, nomeadamente ao nível dos royalties, pelo que provavelmente apresentará valores fora do comum.

Para mim, a grande questão do merchandising é a incapacidade de potenciar os equipamentos do Benfica, em especial devido ao desajustamento do preço das camisolas oficiais e restante equipamento com as possibilidades do mercado português.

Ganhando o Benfica apenas uma percentagem das vendas, considero existir uma miopia da gestão que pensa que a procura é inelástica e que diminuições do preço implicam necessariamente diminuições de receita. Acredito que isso seja verdade de falarmos de mexer 3 ou 5 euros no preço, porém, acredito, é verdade que não tenho dados que sustentem isso, que um corte para 40 euros para sócios e 50 euros para não sócios, implicaria um aumento significativo nas vendas que compensaria a quebra do preço, ou seja, implicaria um aumento nas receitas e mais do que isso, aumentaria as vendas das camisolas para patamares quantitativos aproximados do nosso potencial.

Unknown disse...

Cachets - em 2012/13 foram 400.000 euros
Receitas de Outras competições - em 2012/13 foram 709.682 euros

Ambos os valores são constantes dos R&C, convém verificar melhor os relatórios em vez de apresentar valores errados.

Quanto ao valor de outros que apresentas em 2012/13, este distribui-se por cachets 400, receitas de outras competições 709, assistência técnica 733, indemnizações de seguros 316 e outros não especificados 956.

Reparo ainda as Rendas de espaço não foram abordadas na análise 2,6 Milhões. A verdade é que todas as receitas acima descritas estamos a falar de mais de 8 milhões de euros em 2012/13, o que representa quase 10%, valor que não me parece negligenciável.

Unknown disse...

É bom que tenhas dedicado algum tempo sobre estes assuntos que tão estranhos são à maioria dos adeptos, mas convém ter um pouco mais de rigor, em especial quando se apresentam quadro comparativos ou se retiram conclusões em que se comparam realidades não comparáveis.

Dos pontos negativos concordo com a referida excessiva dependência das receitas das competições europeias, porque o não acesso à Liga dos campeões implica uma quebra de 10 a 12 milhões de euros nestas receitas. Mas repara que a excessiva dependência acontece porque as outras receitas apresentam valores reduzidos quando comparados com as receitas da Liga dos Campeões.

Qual o caminho ? Aumentar as outras receitas. A BTV dará um bom aumento, mas conforme referi, mais importante que as receitas da BTV interessa analisar os lucros da operação. A assinatura do contrato com a Adidas, aumentará também os valores das receitas de publicidade. Seria necessário fazer o mesmo com a PT ou outro qualquer patrocinador e a Centralcer.

A quotização vai sofrer uma quebra importante, mas a renumeração que vai acontecer permitirá fazer desaparecer muitos dos sócios virtuais.

Quanto às receitas de bilheteira, conforme referi também devem ser consideradas numa perspectiva global, ou seja matchday revenue - bilheteira, cativos, seat rights e bilhetes de época (excluímos a quotização devido à diminuição da % que cabe à SAD e as rendas de espaço, pois estas correspondem não só aos bares, mas a todos os espaços no Complexo do Estádio do Benfica independentemente de ser dia de jogo ou não).

O objectivo deverá ser maximizar as vendas de cativos e seat rights com o consequente impacto nos bilhetes de época. Um aumento de assistências médias aumentará o valor do estádio e consequentemente poderá permitir uma renegociação dos naming rights das bancadas e mesmo a venda dos naming rights do estádio por um valor consentâneo com as expectativas da Direcção.

Unknown disse...

correcção - todas as receitas acima descritas mais a cedência de atletas em vez de todas as receitas acima descritas

Iniesta de Mundet disse...

@J., Espero nos próximos dias mostrar os dados que faltam.

@Luis, obrigado. Grande parte do aumento das receitas deve-se aos prémios das competições europeias (que são bastante imprevisiveis), e outra fatia importante à integração dos proveitos da Benfica Estádio. Daí que não sei se o trabalho feito tem sido assim tão bom.

Em relação aos 30 Milhões de receita da Benfica TV, há que perceber quais são os custos adicionais, que anteriormente não existiam (exemplo: Direitos Liga Inglesa).

No entanto, para perceber se o trabalho tem sido bom ou não é preciso ver o lado dos custos, e neste ponto acho que a Direcção tem sido irresponsável.

@ Manuel este é apenas o primeiro post, como refiro no inicio do mesmo

Iniesta de Mundet disse...

@ BCool

Primeiro obrigado pelo input. Passo a comentar os teus posts:

"Primeira questão - problema metodológico - não faz sentido comparar realidades incomparáveis,"

Percebo o que dizes. Na altura em que estava a recolher os dados pensei nisso e por isso pus a tal nota. De qualquer forma para mim o mais importante será mostrar o resultado liquido. Por outro lado, é possivel comparar os 3 últimos anos em questão, já que inclui a questão da comparibilidade não se põe. Também de referir que a maior parte da receita da Benfica Estádio está identificada pelos itens que referi.

Publicidade e patrocínios: Se consideramos apenas o 3 anos comparáveis, verifica-se também um aumento significativo e que refere-se ao contrato com a Central de Cervejas e neste período não ganhámos nada (a não ser taças da Liga). Penso que o importante é referir que o Benfica tem conseguido gerar boas receitas neste ponto.

Transmissões Televisivas. Concordo que não é directamente comparável enquanto item. Penso que terá de se identificar os custos acrescidos que se tem com este novo modelo e subtrai-los às novas receitas geradas. Internamente irão certamente fazê-lo, não sei como irá aparecer no R&C.

Bilheteira:
"Mas não só, analisando as assistências, verifica-se que no campeonato nacional obteve-se uma média verdadeiramente anormal, mais de 50.000 espectadores." O estádio tem capacidade para 65.000. Se somos o clube com mais sócios no mundo, devia-se ter a capacidade de mobilizar os adeptos para irem ao estádio, sem estar tão dependente dos resultados. Sei que os tempos são outros, mas 60.000 era meia casa no antigo estádio. A crise pode explicar uma parte, mas a verdade é que mais importante do que a crise são os resultados que afastam os adeptos. E é esta cultura de resultadismo que tem de se conseguir alterar. Não digo que seja fácil, mas tem de se continuar a tentar.

Em relação ao número de jogos das competições Europeias não concordo:

2009/10:7 jogos em casa da Europa League (1/4 final);

2010/11:3 jogos em casa da Champions League+4 jogos em casa da Europa League: Meias-Finais;

2011/12: 2 jogos em casa pré-eliminatória Champions League + 5 jogos em casa da Champions League (1/4 final)

2012/13: 3 jogos em casa da C.league + 4 jogos em casa da Europa League (final)

Ou seja sempre 7 jogos em casa para as competições europeias nos 4 anos de Jesus e chegando sempre longe. Estes 4 anos são comparáveis a nivel de número de jogos. E nestes 4 anos vê-se que o pior ano foi o de 2010/11, ano em que mais cedo ficámos afastado do titulo. E nos anos seguintes a situação económica do país não melhorou, antes pelo contrário, mas apesar disso a nesses 2 anos seguintes o valor da receita foi bastante superior ao de 2010/11, mesmo com a questão do IVA. Isso só se explica com adesão/afastamento dos adeptos.







Iniesta de Mundet disse...

@Bcool

"Na verdade uma boa gestão procuraria ter 50.000 lugares previamente vendidos para que apenas o remanescente fosse influenciado pelo desempenho desportivo. Aliás, ao ter poucos lugares disponíveis para venda, poderia o Benfica praticar preços mais consentâneos com o que os grandes clubes europeus praticam" VS
"O que me faz pensar que talvez se pudesse baixar os preços de modo a ter o Estádio mais cheio, eventualmente sem quebra de receita, mas com vantagens a nível desportivo, o que permitiria também aumentar o preço dos bilhetes para os lugares que sobrassem"

Penso que estamos a dizer o mesmo, tendo em conta que não estou a incluir as Receitas de Bilheteira. Por isso não percebo o teu comentário:"A análise feita aos cativos reflecte que não compreendes a importância desta receita face à gestão de assistências."

"Cachets - em 2012/13 foram 400.000 euros
Receitas de Outras competições - em 2012/13 foram 709.682 euros"

Uma das dificuldades que tive ao preparar o post foi que nem sempre os dados são apresentados da mesma forma de ano para ano. Se reparares na página 32 do R&C, estes items não aparecem (e estão incluídos em "Outros" como referes). De qualquer forma estes items não foram abordados, porque individualmente não eram muito significativos e também não tenho grandes comentários a fazer.

A questão da dependência das Competições Europeias no total das Receitas é dificil de contrariar. Uma gestão prudente não aumentaria os Custos Operacionais com base neste tipo de Receitas, que no entanto é o que está a ser feito. Vou tentar apresentar os dados em breve.

Unknown disse...

Obrigado pelas respostas.
A questão da bilheteira, prende-se com deixar este item ao sabor do desempenho desportivo ou não.

O facto de 60.000 corresponder a metade da capacidade do anterior estádio, apenas foi verdade durante alguns anos. Eu comecei a ir ao estádio por alturas do fecho do antigo estádio e até 2008 fui regularmente, em especial a partir de 1990.

A verdade, é que depois das imposições da UEFA o estádio apenas já tinha 90.000 lugares e os preços cobrados eram bem inferiores, eu sei pois tinha carnet e adquiri o red pass com o novo estádio. O preço dos bilhetes subiu significativamente, mas os salários não acompanharam essa subida pelo que ver os jogos ficou relativamente mais caro.

O que eu defendo não é bilhetes mais baratos, mas red pass a preços convidativos que justifiquem a sua compra e o aumento dos bilhetes.

Na generalidade dos clubes, os sócios têm uma componente local/regional. No Benfica isso não acontece, pelo que tens que atrair os sócios efectivos que vivem em Lisboa e perto de forma a que em vez de 20.000 (calculo que seja este o número de red pass vendidos), se vendam 50.000.

Quero dizer que a aposta nos Red Pass é uma aposta estratégica que permitirá aumentar o valor do estádio e permitirá que as assistências médias cresçam dos quarenta e poucos mil para os cinquenta e muitos mil com o consequente aumento das receitas em merchandising inerentes às idas ao estádio, aumento das receitas do museu, aumento das receitas de bilheteira das modalidades que se disputem em dia de jogo, etc.

Ou seja, há um agregado de vantagens inerentes ao aumento das assistências, incluindo o valor de mercado dos naming rights quer do estádio, quer das bancadas. Isto só será possível, não por uma baixa dos preços dos bilhetes, mas pela fidelização, por mais pessoas tomarem a decisão de investir na compra do red pass no início da época.

Quanto aos dados do R&C tens que procurar melhor, pois estão lá os dados, e não ficar apenas pelo relatório de gestão. A presença em Torneios de Pré-época serve aos clubes de projecção mundial, quer como forma de levar os jogadores perto de outros potenciais consumidores, quer mesmo a fazer uns bons trocos com a equipa na presença em torneios em países onde o futebol não está tão desenvolvido e pagam melhor pela deslocação das equipas.

Unknown disse...

Competições europeias, em princípio, no início de cada época o Benfica sabe se irá ou não à Liga dos Campeões, pelo que o orçamento da época, deve ser ajustado em função dessa realidade.

Ao invés do Benfica que apenas contabiliza as receitas da LC quando acontecem, o Porto tem a prática de as contabilizar quando se apura, isto é, para o Porto, o prémio de apuramento para a LC é contabilizado no trimestre em que se obtém esse apuramento, pelo que no exercício de 2013/14 devem ter levado um grande rombo nas receitas operacionais do último trimestre, mas se se apurarem e mantiverem o método de contabilização, o exercício de 2014/15 poderá ser muito positivo.

Seja como for, a generalidade dos clubes, vê estas receitas como operacionais. Na verdade na literatura internacional há 4 tipos de receitas operacionais: matchday (bilheteira e afins), commercial (publicidade e patrocínios), broadcast (televisão e prémios das provas europeias) - que quando subtraídas dos custos operacionais obtêm o adjusted EBITDA. O último tipo de receita operacional é o Profit on Sale of Player Registration que é normalmente subtraído pelas Amortizations on Player Registration e Impairments.

Estas componentes todas originam o Operational Profit (or Loss), ou seja, por muito que nos pareça que quer as receitas da provas europeias, quer a venda de jogadores devessem ser consideradas receitas extraordinárias, a verdade é que a generalidade dos clubes/sociedades não as considera assim.

Independentemente disso, eu partilho a ideia que uma gestão equilibrada deve procurar o equilíbrio entre o lucro operacional excluindo operações com jogadores e a soma das amortizações com os custos financeiros. Se alguma vez isso for obtido, então verdadeiramente as vendas se tornam desnecessárias ao equilíbrio das contas.

Para isto acontecer há 2 caminhos, redução significativa dos custos financeiros e aumento dos proveitos operacionais controlando os custos operacionais, algo que não tem acontecido, em especial pela subida dos custos com pessoal, mas estou-me a adiantar ao teu próximo post.

Iniesta de Mundet disse...

@ Bcool

Em relação a questão da Bilheteria/Red Pass estamos então de acordo.

Em relação às Competições Europeias, apesar de se saber que se entra na fase de Grupos, não se sabe o dinheiro adicional que vem dos resultados Desportivos. Sinceramente não sei como o Benfica faz os seus Orçamentos, mas parece-me que é demasiado optimista em relação a estas receitas, pelo menos quando se olha para os custos operacionais.

Em relação à sua classificação enquanto Proveitos Operacionais, é apenas uma opinião minha, que vale o que vale (muito pouco) e tendo em conta que os valores dos Prémios estão claramente identificados pode-se sempre fazer o exercício de excluir este proveito e ver como ficariam os Resultados Operacionais.

"Independentemente disso, eu partilho a ideia que uma gestão equilibrada deve procurar o equilíbrio entre o lucro operacional excluindo operações com jogadores e a soma das amortizações com os custos financeiros. Se alguma vez isso for obtido, então verdadeiramente as vendas se tornam desnecessárias ao equilíbrio das contas.

Para isto acontecer há 2 caminhos, redução significativa dos custos financeiros e aumento dos proveitos operacionais controlando os custos operacionais, algo que não tem acontecido, em especial pela subida dos custos com pessoal, mas estou-me a adiantar ao teu próximo post"

Exacto